
...Reticências...
Há sempre qualquer coisa a dizer depois de umas reticências...
Acredita, tu vais vencer.
Vale a pena ver e partilhar.
Se Tu Não Estiveres Aqui
Conto

Enquanto procurava uns papéis nas gavetas do escritório, esses papéis chatos que todos os adultos têm que preencher e que têm de ter em ordem, Lara decidiu que era o momento certo para arrumar toda aquela confusão.
Tirou as gavetas todas da secretária e depositou-as pelo chão. Sentou-se na sua cadeira preferida lá de casa: uma poltrona enorme, grande, com uns estampados cheios de cor, encostada à enorme janela que ilumina o escritório. Primeiro procurou pelos papéis que eram mais importantes, os tais papéis... Assim que deu com eles colocou-os de parte e continuou naquela arrumação que lhe parecia interminável. Apercebeu-se que dentro daqueles seis pedaços de madeira, em forma retangular, estava muito do que era a sua vida. Acabou por rir de si mesma:
- Tenho 35 anos e a minha vida cabe em seis gavetas de uma secretária. - Pensou para si. Teria feito assim tão pouco? Sim, ainda tinha muito pela frente, mas de repente surgiu aquela sensação que havia algo que lhe estava a escapar. Encontrou mais papéis, e algumas lembranças da escola: cartas das amigas, coleções de porta-chaves e de isqueiros, e claro, álbuns de fotografias. Alguns desses álbuns eram da casa dos seus pais, que ela "roubou" para os ter mais perto de si. Neles podem-se encontrar fotos de família, de quando era bebé, dos seus pais ainda jovens, das suas aventuras nas férias e as típicas fotografias da escola. Deu por si, a encolher-se na poltrona, comovida enquanto esfolheava aqueles álbuns. Tantas pessoas que já tinham passado na sua vida, muitas delas já nem se lembrava dos seus nomes, outras seriam sempre insubstituíveis. Ainda guarda amigas do tempo da primária, e outros ainda a acompanham nesta nova etapa da sua vida. Mas a maior parte deles, se os visse na rua não os reconheceria. E eles? Ainda saberiam quem era? Será que os marcou de maneira diferente, que eles a si? Mergulhada naqueles pensamentos, nem viu as horas passarem, e folheou mais um álbum quando deu de caras com uma foto de um rapaz alto, de olhar intenso, cabelo acastanhado a combinar com o seu tom de pele dourado, sorriso largo, de calções de praia, com o pôr-do-sol ao fundo, olhava para a câmara com um braço levantado como que a chamá-la. Ficou presa naquele olhar, automaticamente, sorriu, lembrando-se daquele dia, lembrando daquele rapaz: o Tristão.
"Fragmentos de uma imaturidade"
Com quem podem contar "esses"? Abrirás mão de ti para te afundares ao aparar quem já se afundou por si só? Serás forte o suficiente para lutares contra os "não" quando ofereces uma mão para a luz? Serás capaz de abraçar ou ajudar para o outro sorrir quando o que o faz sorrir é a acção de sentir o seu corpo ser invadido pela escuridão?
E porque "são tão pobres que não vêem o mundo" só conseguem olhar para o seu nariz e pensar num único propósito para a vida: o erro!
Aos outros, aqueles que dão um verdadeiro sentido à vida, nunca se deixem enganar por aquela porta que se abre tão facilmente para vos dar as boas vindas e depois vos prende a sete chaves pois para a saída sereis apenas vós, sozinhos.
Reflexões
Fábio Serqueira
16-12-2015